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[Coluna da Cissa] Um destino qualquer

Bom, finalmente chegou a minha vez de me apresentar, eu sou a Cecília, ou melhor a Cissa ou Ceci, por enquanto sou a única garota a fazer parte desse pequeno grupo de vendedores de ideias. Representação feminina, uhull!!
Sou brasileira, mas por coisas do destino (isso quer dizer, Ciência sem Fronteiras), estou vivendo na Europa, em um pequeno, porém quente país, chamado Espanha, em uma cidadezinha da Andaluzia chamada Granada (recomendo a todos uma visita). E por aqui tenho aprendido muitas coisas, talvez mais coisas da vida do que de matéria, é uma experiência que muitos deveriam viver.
Sempre gostei de escrever, e através das letras passei toda a minha vida. E hoje trouxe um texto que fala exatamente sobre os caminhos da vida, espero que vocês gostem.

Créditos: http://www.aroldogalindo.com.br/image/rua_1.jpg

Tic-Tac

por Cecília Nunes


Estava eu aí, parada, junto com dezenas de pessoas paradas ao meu lado, esperando. Finalmente o sinal abriu e todos juntos atravessamos a rua, como um batalhão que marcha rumo ao exército inimigo. O Sol ainda despontava no horizonte, espreguiçando-se calmamente e a rotina de trabalho da cidade já havia começado há muito tempo, apenas com a luz gélida da Lua e das poucas estrelas que podiam ser vistas no céu naquele dia de inverno.
Eu andava calmamente por aquela rua cheia de pessoas apressadas, sentindo as batidas do meu coração que pareciam estar em unidade com os tic-tac’s dos relógios que estavam por toda parte. Mais uma vez eu me perdia nas entranhas daquele lugar que recém acabara de conhecer, andando apenas em direção ao meu pensamento.
O que cada uma daquelas pessoas faziam tão cedo na rua? Isso indagava minha mente, notando cada face que passava por mim e tentando imaginar o seu destino. Preocupações, pressa, sono, sofrimento, luta, dor, angústia, felicidade, saudade, desespero, amor, solidão, remorso, perdão, calma, calor, ilusão, tudo isso se podia ver através dos muitos olhos que perambulavam naquela manhã.
O relógio da igreja badalava pela sexta vez, e as ruas pareciam ficar cada vez mais cheias, haviam sons por toda parte, cheiros que se misturavam no ar, e o meu pensamento que não parava de contar os tic-tac’s que zuniam pelas ruas.
A medida que o tempo passava as ruas iam ficando cada vez mais estreitas, pequenos becos, alguns sem saída, que me obrigavam a retornar e a seguir um novo caminho, mas eu continuava seguindo em frente, e a cada vez que eu olhava para trás uma dor invadia o meu peito, e alguns SEs pipocavam na minha mente: E se eu tivesse virado a esquerda e não a direita? E se eu tivesse seguido reto? E se eu tivesse parado para tomar um café da manhã? E se eu estivesse acompanhada? Cada SE martelava na minha cabeça como um choque elétrico que doía no mais profundo do meu ser.
Mas a cada pensamento o tempo parecia passar mais rápido, os ponteiros do relógio moviam-se implacavelmente, pareciam cada vez ter mais vontade de chegar ao seu destino. E diante dos meus olhos pessoas entravam e saiam das ruas, sempre dando continuidade a um caminho que parecia não ter mais fim, como em uma dança cada um parecia ter o seu lugar, a sua hora de brilhar e a sua hora de sair de cena, passos coreografados pelo dia a dia.
Eu continuava andando, sempre andando, deixando a cada passo algo para trás, e a cada passo ganhava algo novo, a poeira das ruas se acumulava nos meus sapatos, e eu parecia cada vez mais longe do meu ponto de partida. O caminho parecia nunca ter fim, parecia que eu nunca iria chegar aos meus pensamentos, ás vezes uma saudade invadia o meu peito, não sei bem se das coisas que haviam passado ou se sentia saudade do lugar ao qual eu chegaria, mas ela estava aí, pronta para ser despertada por pequenos detalhes encontrados pela rua.
Pelo caminho algumas árvores perdiam suas folhas, mas novas folhas pareciam surgir-lhes a cada instante, flores apareciam e desapareciam, o ambiente ia mudando, os sons, as cores, os odores, as texturas, nuvens negras invadiam o dia de Sol e durante alguns momentos uma chuva silenciosa invadia aquela pequena cidade, mas logo o Sol parecia vencer o desafio daquelas nuvens e os seus raios voltavam a invadir o caminho. Tudo parecia diferente agora, o relógio indicava já ser o meio do dia, e as modificações pareciam não parar de ocorrer.
Agora com o Sol alto no céu, o calor parecia invadir o meu corpo, e o suor da minha face e das minhas mãos pareciam não ir embora nunca, tudo parecia mais difícil naquele momento, a calma manhã já se havia passado havia muito, e agora a realidade parecia entrar com mais força, queimando como os raios do Sol.
Os pensamentos do início do dia pareciam desvanecer, e novos pensamentos surgiam, a mente já não parecia tão limpa como antes, agora era mais difícil mantê-la viva, sedenta de um destino, o destino parecia estar naquele lugar, naquela hora. No entanto tudo parecia fazer menos sentido do que antes, e aquilo me levava a caminhar mais e mais em direção a um novo lugar.
E andando tudo ia passando pelos olhos, e pelo coração, os sentimentos pareciam não ter fim, quando eu pensava que conhecia todos os sentimentos um novo surgia no quarteirão seguinte, uma intensidade de sabores parecia explodir na minha boca, os sabores daquele caminho que invadiam todo o meu ser e pareciam fixar-se todos juntinhos, fazendo uma bagunça nas sensações dentro de mim.
A caminhada vai ficando cada vez mais lenta, o fim do dia parece se aproximar, o destino parece ainda tão longe, tão inalcançável, tudo vai mudando diante dos meus olhos, as lágrimas vão escorrendo por uma face cansada de tanto andar, existe uma mistura de dor e alegria dentro de mim, tudo parece perdido, no entanto tudo parece perfeito, tudo parece um equívoco, ou seria o maior acerto da minha vida? Tudo passou, tudo marcou, tudo ficou para sempre nas ruas daquela cidade chamada Vida, e finalmente ao fim do dia, eu posso ver que o meu destino na verdade era o caminho, e que o fim deste finalmente chegou, e eu em fim, posso dormir em paz, pois tudo acabou bem, ou mal, mas acabou, como qualquer outra história. Os ponteiros do relógio finalmente se juntaram.

Comentários

  1. A beleza da vida está em entendermos que é a caminhada e não o destino que desenha nossa evolução e define a toada dos passos. Amei o texto.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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