E daí se eu não tenho barba? Por Ricardo Neruda Já não bastava a barba não crescer e o cavanhaque ralo parecer uma sujeira, falta de banho e coragem de lavar o rosto, tinha que pai, mãe, vizinho, vizinha, cachorro, gato, periquito, cobra, papagaio e até a melhor amiga lembrar disso. Quando Tiago olhava no espelho e lembrava disso se irritava com sua genética. “Barba dá cara de homem”. Realmente, um fato, então podem encher o saco de todas as mulheres que tem um pelinho a mais na cara, pensava ele. Tinha dias que tirar a sujeira da cara o fazia parecer um bebê, e a única promessa do que poderia vir a ser um cavanhaque era subestimado pela amiga Alexa: “nem é bonito cavanhaque, ou é barba ou não é”. Por mais que Alexa dissesse isso, ela não se importava de verdade com isso, mas Tiago sim. Tiago já estava tão irritado com as amigas que começou a soltar farpas e a língua afiou. “Bla bla bla, barba”. “Amiga, você fala como se tivesse corpo de mulher, mas é uma tábua”. Quando não era