A Mesa de Bar

Boa noite, gente!

Hoje trago uma crônica, trago um gole, trago reflexão...

MESA DE BAR

por Ricardo Neruda

Uma conversa na mesa de bar.

Amigos reunidos.

Mas seria realmente aquilo uma conversa?

As pessoas presentes à mesa estavam todas com o celular na mão e conversando, curtindo, fazendo qualquer coisa nele, exceto interagir pessoalmente com aqueles à mesa, com algumas exceções.

Um solteiro, um casal de namorados, uma moça loira, uma ruiva, uma morena, uma gordinha, uma magra, um rapaz forte, um rapaz alto, um rapaz bem baixo, o amigo alegre demais, a gótica. Apesar das diferenças, eram de um grupo que se dizia amigo, mas estavam todos nos seus celulares.

A ruiva estava tão desatenta e desesperada por achar um namorado na internet que não havia percebido que o solteiro estava paquerando-a. A gordinha e a magra discutiam sobre comida pelo celular, mandando prints e fotos. O amigo alegre demais e a gótica gostavam de falar das diferenças das pessoas, eram os mais observadores da mesa.

Vez ou outra largavam um celular e comentavam sobre algo da vida. Mas que vida?

- Sabiam que postaram uma foto de Fulana fazendo coisas intimas com seu namorado? - perguntou a moça loira.

- Postaram naquela rede social dos segredos que na verdade não era o namorado dela. - respondeu a ruiva.

- Eu vi as fotos... - falou baixinho o rapaz alto.

- Opa, me passa elas então. - falou o solteiro, já impaciente pela ruiva não estar dando atenção.

- Já vou mandar...

Falaram, julgaram e condenaram. Todo mundo tem intimidade, fala de intimidade, vive intimidade, mas não perde a oportunidade de falar dos outros.

Conversa vai, conversa vem.

- Viram aquela foto da mulher que tirou uma selfie no funeral?

- Que idiota!

- É, mas no dia da morte do cara você só tirava graça no seu microblog.

- Todo mundo tira foto, por que condenaram ela?

O clima ficava meio tenso...sabiam que poderiam discutir a noite toda sobre os segredos, sobre o preconceito, racismo, homofobia, heterofobia, anti-crentes, anti-ateus, sobre o que fulano fez de errado, e isso tudo sem enxergar as próprias atitudes. E continuavam.

- E aquele crente que diz que é crente mas só vejo ele nos lugares errados... não é ele ali do outro lado do bar bebendo? - falou baixinho o amigo alegre.

- Esses crentes são todos iguais. Dizem que são santos e querem evangelizar todo mundo. - falou a gótica, que até então só observava com desgosto.

- E pior...querem forçar a gente a ouvir... eu tenho minha religião e não escuto mais é ninguém.

- E você conhece bem sua religião? - perguntou o rapaz baixinho.

- Só o que o ministro fala. Pra que conhecer o resto né? Perda de tempo.

O casal de namorados pareceu se incomodar. Já não estavam gostando da conversa desde o início. Só tinham ido à reunião porque não viam seus colegas a anos, mas estavam mais desconfortados e se sentindo excluídos por causa dos celulares do que interagindo com amigos em um papo saudável. Mandaram mensagem de celular entre si para concordarem em sair dali e irem namorar.

- Já vamos. - disse o namorado.

- Como assim?! Está cedo! - disse a morena que estava a noite inteira de olho no rapaz, mesmo com a namorada ali.

- Amanhã tenho trabalho e preciso deixá-la em casa.

Despediu-se o casal. Mas o casal não saiu da boca do povo.

- Vão é aprontar...

- Isso mesmo. Só se fingem de santos.

Entre fotos, conversas de celular, humilhações, julgamentos, os amigos pediram mais algumas cervejas e começaram a tirar piada com a orientação sexual das pessoas. Depois começaram a falar de dinheiro, riquezas e dos pobres que andavam de ônibus. Achavam-se no topo da sociedade.

A verdade é que eles eram apenas mais vítimas da falta de educação e respeito que devem ser dadas desde cedo. Afinal, você pode ter o mundo em suas mãos, mas se for alguém que humilha os outros, será considerado um lixo. Você também pode ser o mais pobre, se não tiver humildade e respeito, continuará sendo pobre de espírito.

Pessoas boas de verdade são pessoas corajosas o suficiente para não se deixarem levar pelas opiniões vazias dos outros e espertas o suficiente para respeitar a cada um, independente de sua religião, orientação sexual, partido político, time de futebol etc.

E quando falamos das redes sociais, devemos incluir nosso respeito nelas também. Afinal, quanta covardia querer fazer o mal aos outros estando escondido atrás de um aplicativo ou de uma tela de computador! Pior ainda quem faz isso por "prazer".

E naquela mesa de bar, a reflexão do certo era o que mais passava longe. Dificilmente alguém conseguiria colocar na mente daquelas pessoas a necessidade de buscar o que era certo, porque para elas, elas nunca estiveram erradas.

Ai delas se fossem delas que alguém estivesse falando neste momento.

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